AS BASES FILOSÓFICO-CONCEITUAIS DA MEDICINA CHINESA - PARTE 2: O QI QUE TUDO UNE

O naturalismo e o Taoismo afirmam que os seres humanos são uma parte integral da Natureza e do Tao, e não a criação de um ser divino sobrenatural. As duas escolas de pensamentos dão ênfase à unidade de todos os fenômenos no universo (parte 1). O que une tudo é o Qi. O Qi é a matéria não substancial que está por trás de tudo que se manifesta (HICKS, 2007). É a força da vida, a energia imaterial omnipresente que no seu fluxo anima todos os seres vivos e permeia o Universo, ligando todas as coisas como um todo.
Usualmente o termo Qi tem sido traduzido como Energia Vital, que é uma concepção oposta à matéria. No entanto, na concepção chinesa, a energia e a matéria são a manifestação continua de um mesmo aspecto, a composição do universo. O Qi tem então atributo tanto energético quanto material. (ROSS, 1985). Os Russos chamam-lhe Energia Bioplasmática, os Hunas da Polinésia chamam-lhe Mana, os Índios Iroqueses Americanos chamam-lhe Orenda, na Índia chama-lhe Prana, nos Países Islâmicos designam-na por Baraka e por Qi (Chi, Ki) na China.
O conceito de Qi esteve no pensamento dos mais remotos filósofos chineses. Maciocia discorre sobre várias citações desses filósofos que indicam a preocupação em explicar a natureza do Qi, citamos:
* Xun Kuang (313–328 a. C) “o Qi é a base para as manifestações infinitas da vida do universo”;
* Zhu Xi (1131–1200) também considera a vida uma condensação de Qi, em suas palavras: “Qi, condensado, pode formar seres vivos”.
Maciocia conclui que “Qi é uma forma contínua da matéria, resultando na forma física (Xing) quando se condensa. Xing é uma forma descontínua de matéria, que resulta no Qi quando se dispersa. ”

O Qi é um estado constante de fluxo em estados variáveis de agregação. Quando o Qi se condensa, a energia se transforma e se acumula em forma física; quando se dispersa, O Qi origina as formas mais sutis da matéria. O Qi é uma energia que se manifesta simultaneamente sobre os níveis físico e espiritual. O Qi assume várias formas no corpo, desempenhando uma variedade de funções: o Qi Original, o Qi do Alimento, o Qi da Reunião, o Qi Verdadeiro, o Qi Nutritivo, O Qi Defensivo (MACIOCIA, 2007 p. 36).
Em seu Livro Os movimentos do Coração, Psicologia dos Chineses, Elisabeth Rochat apresenta o Qi como Sopros, vapor, exalação, fluido, influxo, energias. Muitos termos para evidenciar a dificuldade ocidental de tradução da ideia de Qi. Pelo ideograma, ilustrado ao lado, o Qi é representado por um grão de cereal que estoura ao ser cozido ou digerido e libera um vapor que sobe acumulando-se. Os sopros produzem, animam e mantêm as formas. Por meio dos sopros, tudo se faz (Rochat, 2007).
Assim como o nosso sangue e a linfa, o Qi circula por canais e colaterais, os jing luo que percorrem todo o corpo, exercendo as funções de: transformar e transportar alimentos e fluidos, manter o sangue e fluidos em seus próprios locais, subir como é o caso do Qi do baço que ascende e mantém os órgãos no lugar, proteger da invasão de fatores patogênicos externos, aquecer, favorecendo todos os processos fisiológicos que dispendem energia (MACIOCIA, 2007). O controle do fluxo dessa Energia Vital é a base para as terapias da Medicina Chinesa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HICKS, A. HICKS, J. MOLE, P. Acupuntura Constitucional dos Cinco Elementos. Ed. ROCA. São Paulo, 2007.
MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa: um texto abrangente para acupunturistas e fitoterapeutas. Trad. Luciane M. D. Faber. S. Paulo: Roca, 2007.
ROCHAT de la Vallée, Elisabeth & Larre, Claude. Os Movimentos do Coração, Psicologia dos Chineses; tradução de Nicole Mir. São Paulo: Cultrix, 2007.
ROSS, JEREMY. Zang Fu, Sistemas de Órgãos e Vísceras da Medicina Tradicional Chinesa. Versão para o português: Ysao Yamamura. Ed. ROCA, 2ª Edição. Bristol, 1985.
Portugal Tai Chi Center. O Que é a Energia Chi, Qi, Ki, Energia Vital. Disponível em: http://www.taichiportugal.com/chi/chi_energia.html. Acessado em 07 de maio de 2017.